sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

bye bye, so long, farewell


Eram 4 filhotes. Uma já tava escolhida e devidamente encoleirada, pois era mais ativa, curiosa e miava por demais. O macho não seria válido para um apartamento. Sobravam duas. Foi então que olhei com mais atenção. Ela era a menorzinha e tinha olheiras como as minhas. Num primeiro momento seu nome era Miúda, mas depois de algumas semanas virou Mema.

Apesar de pequena comia muito. Sempre foi meio esganada. Talvez por ter sido sempre a menor perante seus irmãos. Era a lei da selva. Virou uma gata enorme, mais peluda que a irmã, porém sempre meio maluquinha. Carente, com seus olhos inquietos, sempre em órbita. Vez ou outra tinha uns repentes e escalava os batentes das portas ou se jogava na tela da varanda. Escolhia os lugares mais improváveis pra dormir, como o basculante do banheiro ou uma caixa escondida embaixo de um móvel. Era submissa e apaixonada pela irmã. Carinhosa e doce com todos. Pulava no colo de qualquer um que se sentasse no sofá.

Porém um dia apareceu um caroço no pescoço. Achei que poderia ser berne, já que morava próximo ao Parque Jardim Botânico. Moscas desse tipo não não poderiam ser muito difíceis naquela região. Passados uns dias levei-a ao veterinário e o veredito foi o pior possível: sarcoma vacinal, ou seja, câncer por vacina. Mas poderia ser benigno, certo? Errado! Após a biópsia descobriu-se ser um mega-super-bláster-evil tumor.

Resumindo, foram quatro cirurgias em dois anos e cada vez que era retirado o maldito voltava maior e em menos tempo. A última operação então foi terrível. Foram muitas semanas de recuperação. Dois meses depois ele voltou em outro lugar. Impressionante como foi rápido. Passado mais um mês Mema parecia ter envelhecido uns 6 ou 7 anos. Seus olhos ficaram tristes, seu pelo esbranquiçado, seus ossos cada vez mais aparentes. Emagreceu a olhos vistos, impressionante como essa doença terrível suga as forças, seja de uma pessoa ou de um animal. Já estava difícil comer, andar, se levantar ou usar a caixinha. Sabia que tinha de tomar uma decisão ou melhor, só tinha uma coisa a fazer, mas fui postergando.

Acordei ontem e pela primeira vez, em quase 8 anos ela tinha urinado no chão. Não conseguiu mais levantar. Eu tive que levá-la à caixinha e a fiquei segurando para não cair. Era a hora. Liguei para o veterinário, combinei tudo com ele. Desliguei e caí em prantos. Era mais uma perda, mas eu não podia mais e ela também não.

Coloquei-a com cuidado na bolsa de palha que tantas vezes me serviu de transporte para levá-la aos antibióticos pós operação. O marcado era estar lá às 14h, mas acabei chegando uns minutos antes. Sentei na porta da clínica, coloquei a bolsa do lado e ela me encarava com seus olhinhos. Ela não tinha mais olheiras, apenas tristeza e muito cansaço. Ficamos ali por uns dez minutos. Intermináveis eu diria. Fazia carinho em sua cabeça e ela tentava miar, sem muito sucesso. Um barulhinho baixinho, sofrido, angustiado. Ela sabia que a hora tinha chegado.

Entramos na clínica, a tirei da bolsa e a segurei em meu colo pela última vez. Dei-lhe um beijo e agradeci por tudo. Coloquei-a em uma gaiolinha e ela resignada se deitou. Me despedi e saí pela rua vagando aos prantos.

O animal caminha para a condição de homem, tanto quanto o homem evolui no encalço do anjo.(Emmanuel, na obra 'Alvorada do Reino' - Psicografia: Chico Xavier)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Antevasins...

Eu conheço muita gente, mas tenho poucos amigos. E antes que isso vire um clichê assumo qualquer culpa nesse sentido e digo que isso ocorre principalmente por um problema exclusivamente meu. Mas que prefiro não comentar neste momento para não me alongar demais.

Enfim, especificamente sobre um desses meus amigos eu gostaria de falar a respeito. Eu o conheci no trabalho, como a maior parte dos meus amigos atuais, há uns 8 anos atrás. Sem maiores detalhes, apenas que ele parecia estar 24 horas ligado no 220v. Ria, pulava, gritava e brincava o tempo inteiro. Obviamente uma pessoa dessa perto de outra que adora uma bagunça... Só poderiam ficar amigos! E foi o que aconteceu. Trabalharam por um tempo juntos e nesse tempo viraram muitas noites por conta de jobs imensos, jogaram muito PlayStation sentados na mesa de sinuca, tomaram alguns chopes, tequilas e afins. Foi um tempo feliz!

Mas a vida se acarreta de, em certos momentos, levar as pessoas para caminhos diferentes. Perdemos o contato, mas uns dois anos depois se reencontraram em outra agência. A amizade voltou e quando seguiram rumos diferentes a amizade permaneceu. Mais branda, porém sempre existente – as redes sociais já bem avançadas nesta fase ajudaram também.

Mas o ponto é: um belo dia ele conheceu uma baiana, se apaixonou , largou tudo e se mudou pra Salvador. O romance não deu certo, mas... Ele já estava lá! Ele teve a coragem de recomeçar em outro lugar, uma nova vida, com novos amigos, trabalhos e tudo que acarreta uma mudança assim.

Daí esses dias estava pensando se coragem é algo que as pessoas têm ou não têm. Penso que ele sempre teve essa vontade, mesmo que no interior de seu íntimo, mas será que lá dentro ele tinha coragem? Ou será que a coragem não se materializou em forma de uma mulher, como algo a catapultá-lo para um sonho, mas ao mesmo tempo alguém para culpar se não desse certo? Será que isso amenizaria a culpa em caso de falhar?

Sinceramente não consigo chegar a uma resposta segura, mas só consigo pensar que por essa ótica, talvez, a vida possa se tornar, quem sabe, mais agitada? Mais sofrida? Ou seria uma forma de trocarmos o medo por um impulso? Sinceramente???? Não sei!

Bom, de qualquer forma fica a dúvida: mas o que me levou a pensar em tudo isso? Bom, a HBO andou reprisando incessantemente (como de praxe) Comer Rezar e Amar e apesar de achar que o filme não consegue chegar aos pés do livro (o que ocorre em 99% dos casos), consigo juntar as duas coisas e compreender aquilo de uma forma única. Por motivos diferentes do meu amigo Elizabeth Gilbert também larga tudo em busca de algo novo. E confesso que essa possibilidade de sair pelo mundo buscando e explorando o novo sempre permeia meu ser em variados momentos. Mas diferente desses dois personagens-reais é bem capaz de me faltar coragem, ou quem sabe, a ‘desculpa’ para fazer disso algo real.

Para finalizar: tem uma parte do filme em que Felipe, personagem vivido por Javier Bardem, explica a Liz que ambos são “antevasins”, ou seja, pessoas que estão sempre no meio. Segundo ele os “antevasins” deixam o conforto da família em busca da iluminação. Bom, quanto a deixar o conforto de minha família, ok, isso foi feito há quase 15 anos. Mas a iluminação ainda está sendo providenciada e espero, sinceramente, conseguir atingí-la um dia.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Fácil!?

Comumente me pego pensando que a vida deveria ser mais fácil. Tirando o fato de que a humanidade nunca está satisfeita (taí um dos motivos para o qual a vida não seja sempre perfeita) e gosta de reclamar, também tem o fato de que viver não pode ser classificado como justo bem como o estado de felicidade plena, buscado pelo mundo inteiro, não existe. Fato.

E a constatação dessa 'injustiça' parte do simples motivo de que se fosse justa as pessoas não morriam ou ficavam doentes. Não seriam estupradas, assassinadas, sequestradas, bem como não perderiam suas casas em enchentes ou incêndios. E digo isso sem passar por qualquer dogma ou crendice. É simplesmente uma constatação das notícias diárias.

Mas ao mesmo tempo, como uma pessoa que crê na reencarnação, não posso deixar de levar em consideração meu posicionamento sobre isso. Se nossas almas reencarnam elas estariam passando por constantes processos evolutivos a cada ‘vida’. E se você precisa evoluir meu bem, nada mais razoável que você passe por coisas boas e ruins na(s) vida(s). Simplista? Talvez, mas eu acredito nisso.

E a felicidade plena? Por que motivo as pessoas buscam algo tão intangível? Pensemos em algumas constatações: se a felicidade plena existisse não acha que aquela humanidade que nunca está satisfeita e gosta de reclamar (mencionada no primeiro parágrafo) não acharia uma forma de ficar insatisfeita? Tipo: você ama Paris e gostaria de passar suas férias lá. Mas se pudesse fazer isso em absolutamente todas as suas férias não iria uma hora chegar à conclusão de que não aguenta mais e iria reclamar? Sim! Se tivesse a possibilidade de não trabalhar e passar o tempo todo vagabundeando... Será que em algum momento não sentiria falta de ter uma vida mais regrada com um mínimo de rotina e organização? Sim! Ou se pudesse comprar um iate por dia, ou uma moto, ou jantar fora no Gero diariamente... Enfim, o ponto é que precisamos dos desafios e metas para dar valor àquilo. Àquela conquista. Ou seja, o sentimento de ‘eu lutei, eu consegui’ são complementares ao fato de estar fazendo algo que sempre quis. Fato.

Com isso só posso chegar à conclusão de que a felicidade plena não existe, mas momentos felizes. E esses momentos felizes são os que nos mantêm vivos, crendo no fato de quando coisas ruins acontecem ou dificuldades aparecem a gente pode e consegue transpor aquilo. Chamo isso de fé. E se essa fé é na gente mesmo, na vida, nos outros, não importa, mas é o que nos move a continuar.

Resumindo: viva com equilíbrio. Você não precisa deixar de fazer nada, mas também não precisa fazer tudo. Coma, beba, exercite-se, tome sol, faça sexo, mas com moderação. Não perca a conexão com você mesmo, não deixe de ser quem é por causa de outrem. Viva um dia de cada vez sem se apegar ao passado ou a futuro. Viva o hoje, simplifique, ganhe tudo, perca tudo, só não perca a fé.